Aterrissei em Funafuti 13h. A palavra é: surreal. O aeroporto fica no meio da cidade. Praticamente toda a cidade estava lá para ver o avião chegar. A pista de pouso não possui cerca, só um caminhão amarelo do corpo de bombeiros que fica trancando a pista minutos antes do avião chegar.
Quando tu desce do avião, a alfândega é quase que junto com as malas, e só tem um policial para carimbar o passaporte. Claro, mediram minha temperatura e preenchi pela milésima vez o termo de saúde (onde estive nos últimos 14 dias... cada vez tenho que checar, de tanto lugar que estive nos últimos dias!).
Peguei minha malinha rosa e fui para fora, esperar minha plaquinha. Como em Samoa, ninguém. Aí perguntei para uma mulher com a placa de um Lodge onde ficava a pessoa que me buscaria, e ela me apontou onde ficava meu hotel: menos de 50 metros. Passando a polícia, ela disse. E assim fui eu para meu hotel, caminhando. Levei 3 minutos para chegar.
Fiz meu checkin num quarto superior com vista para lagoa no Funafuti Lagoon Hotel, o único hotel da cidade. O quarto era enorme, uma cama de casal e uma de solteiro, uma bancada para escrever, duas poltronas, um armário, uma mesa com café, xícaras e um aquecedor de água, um perfume de flores em todo o quarto e um ar-condicionado que fazia parecer o paraíso na terra, pois faziam uns 42oC.
Voltei na recepção para perguntar onde poderia trocar dinheiro (US$ não são aceitos em Tuvalu, só Dólar Australiano AUD$). Ela apontou a esquina. Perguntei onde poderia comprar uma senha para o Wi-Fi. Ela disse que era na casa antes do banco.
Sendo assim fiz tudo o que eu precisava em menos de 15 minutos: o banco ficava a 100m, a Telecom ficava a 70m. Então, dá pra imaginar que tudo isso fica na frente do aeroporto, né? E, além disso, na frente do aeroporto, é o prédio do Governo. Em 5 minutos conheci todo o centro.
Almocei no restaurante do hotel (que é o único da cidade) e fui tirar uma sesta merecida, já que não tinha dormido à noite. Apaguei.
Sorte que coloquei despertador para 17:30h, queria ver o pôr-do-sol que seria 18:30h.
Desci e perguntei na recepção onde poderia ver. Ela mostrou atrás do hotel (onde eu poderia ver da sacada do meu quarto), um centro de Convenções enorme na beira da lagoa. Lá seria o lugar perfeito para ver o pôr-do-sol.
E foi. Incrível. Lindo como sempre. Agradeci, sorri e agradeci de novo. Depois de tanta andança, estava finalmente em Tuvalu, um dos primeiros países que irá desaparecer se o aquecimento global continuar. Eu era a felizarda de estar lá, de conhecer um pouco mais da cultura, das pessoas, e entender o porquê das pessoas se preocuparem tanto com isso. Quando é muito distante, principalmente fisicamente, é difícil entender. Mas quando estamos próximos fica mais fácil. Muito.
Por isso viajar é mágico. Ele altera o nosso modo de pensar, faz com que vivenciamos coisas completamente diferentes de qualquer outra já vivida.
Voltei para o hotel e jantei um sanduíche no meu quarto. E escrevi, muito. Conversei com a Leici e com a Sabine, que trabalhavam no bar do hotel. Elas tinham muita curiosidade em relação a mim. E eu em relação a elas. Disseram que achavam que eu tinha 27 anos. Dormi feliz.
No outro dia acordei para tomar café-da-manhã. Tudo no hotel dura 2h. Café da manhã: das 7h às 9h; Almoço: das 12h às 14h; Jantar: das 19h às 21h. Prático.
Aluguei uma Scooter. Sim, no último país, no último dia, finalmente, aluguei uma Scooter. O hotel mesmo alugava, AUD$ 10 a diária.
Nos outros países preferi ir com um guia porque eu não sabia onde eram os locais para visitar. E o aluguel era mais caro, então valia mais a pena já pagar com o motorista. Mas aqui em Funafuti não tem nenhuma atração especial (ela toda é especial). A ilha é uma tripa: de um lado a lagoa e do outro o Oceano Pacífico. Uma pista só, mão inglesa. Finalmente dirigi na mão inglesa!
Fui duas vezes até o final da ilha para a esquerda e 3x para a direita. Adorei minha independência.
Fui primeiro para a esquerda porque a recepcionista do hotel disse que era lá que tinha a estrada onde conseguia ver a lagoa de um lado e o mar do outro. Bingo. Tirei várias fotos no meio da rua (ninguém passa por muito tempo e, se passa, é uma moto normalmente). A estrada do lado esquerdo termina no lixão. Antes dele tem o Porto. E antes disso muitas casas, muitos túmulos (aqui as pessoas também são enterradas no pátio das casas e tem enfeites coloridos), a lagoa do lado esquerdo e o mar do lado direito.
Na segunda vez que fui para esse lado deitei em uma rede na beira da lagoa. Tem várias, às vezes um morador ou outro está deitado lá, mas normalmente não tem ninguém. Aí eu aproveitei.
No outro lado mesma coisa: lagoa do lado esquerdo e oceano do lado direito. Nessa a estrada de asfalto terminou mais cedo. Mas tinha uma trilha no meio de um mato que parecia de filme de tão lindo. Como eu já era praticamente uma motoqueira sem medo nenhum, entrei na trilha de moto. Andei uns 500m e terminou. Finish. Ali o mar encontrava a lagoa, o atol ali ficou submerso. Acabou o país. Acabou.
Tinha uma árvore (daquelas com a raiz para fora) e muitas pedrinhas beges no chão. O mar e a lagoa se misturavam, os dois bem calminhos, lindos. Fiquei ali sozinha por algum tempo, entrei na água (que tem entre 25 a 27 graus), tirei um milhão de fotos e voltei.
Voltei pro ar-condicionado. E para almoçar. Não podia perder o horário. Atravessei a ilha inteira e só vi um restaurante que não teria coragem de comer - e olha que eu comi em cada lugar nesses últimos dias. Preferi garantir meu alimento no hotel como turista.
Dei um tempo no ar-condicionado e fui para o Post Office, que eu já tinha passado antes (12:30h), mas o horário dizia que era horário de almoço até 13:30h. Voltei 14:45h. A porta de madeira estava aberta, mas uma porta de vidro fechada e escrito “Closed” (fechado). Mas o horário dizia até 15:30h. Bati e nada. Fui na sala ao lado (que estava aberto, com ar-condicionado a mil, mas não tinha ninguém). Voltei pro hotel. Perguntei para as meninas que estavam enfeitando um carro para um casamento que aconteceria no hotel se teria outro lugar para comprar cartões postais. Elas disseram que não. Comentei sobre o horário e elas responderam: “talvez seja porque hoje é sexta-feira”.
Não acreditei! Quando eu passei 12:30h a placa tava “Open”(aberto), mas não entrei porque não era horário.
Voltei lá. Resolvi ficar esperando até alguém fechar a porta de madeira. Consegui comprar postais em todos os países, não poderia ser em Tuvalu que não compraria!
Todos os selos da história de Tuvalu nos correios.
Nessa hora tinha alguém na sala do lado com ar-condicionado. Ele disse que atrás do prédio teria uma Internet Café, e talvez por ali eu conseguisse alguma coisa. Sim, a moça abriu o Post Office por trás e chamou a atendente (que estava dormindo) para me atender. Consegui comprar os 3 cartões postais (um para mim, outro pros meus pais e outro para os meus afilhados Felipe e Rafael), e ainda consegui enviá-los!
Fiquei muito feliz. De novo, tudo deu certo. Aproveitei e fui até o final da ilha de novo, só para comemorar dando uma volta na minha Scooter.
Voltei para o hotel na hora do pôr-do-sol. Peguei meu vinho e fui para o meu local (atrás do centro de conferências) assistir ao espetáculo. Foi mais legal que ontem: teria um casamento no meu Hotel, festa estava sendo organizada o dia inteiro. Aí no momento que estava indo ver o pôr-do-sol os noivos estavam lá também para fazer fotos.
E tinham várias aias vestidas com vestidos verdes, de diferentes idades. Elas abandonaram a sessão de fotos para vir falar comigo. É muito fácil falar com as crianças em Tuvalu pois elas tem aula em inglês no colégio. Tirei uma foto linda com elas, e elas me perguntaram se aquela foto iria para o mundo! Sim, ela vai. Pelo menos vai até Porto Alegre, que fica a mais de 13.000km.
Tuvalu é surreal. Explicar em palavras a sensação de estar em um país praticamente isolado do mundo e extremamente lindo é quase impossível. Mas os pensamentos não param. Viajar nos faz pensar, nos faz comparar, nos faz recomeçar. Diferente e melhor.